segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Falatório


Até hoje, não entendi meu propósito na vida... Bem verdade que tenho poucas lembranças de quando eu era pequeno, ou mesmo de minha família. Será que estão todos bem? Mas o pouco que me resta em lembrança, faço questão de preservar a todo custo. Aos tidos parentes, conhecidos como "pardais", quando cá encostam no meu recinto, tento descobrir um pouco do que acontece nesse mundão afora... Eles vêm, comem um pouco da minha comida, falam uma coisa ou outra, mas assim que vêem um Humano, logo tratam de ir...

Através dessa grade, quando olho os que livres estão, sinto uma pontada de inveja e até de ódio. Também gostaria de sê-lo. Poder ir , ir e quem sabe, vir. Quando cansado, bastaria repousar em algum parapeito razoável ou à sombra de uma árvore. Não importa. Mas... Minha realidade é outra.

De tanto ouvir o que me é imposto diariamente, acabei aprendendo essa linguagem símia e singular. Também, não poderia ser diferente... se até esses bípedes conseguem falar, como nós, seres dotados de esplendida inteligência não conseguiríamos ?

Mas igualmente a minha inteligência, reflete-se através do tempo minha tristeza. Sempre as mesmas palavras, a mesma comida, os mesmos bípedes... e o mesmo lugar claustrofóbico. Eles se enganam ao pensar que através da minha fala estou feliz... o que me resta se não interagir para ver se meu tempo passa um pouco mais rápido... Se a dor de estar preso indefinidamente cessa...

Minha inteligência não compete/compreende o porquê desse enclausuramento... Uma forma talvez desses bípedes não sentirem-se tão sós? Uma forma de exteriorização dissimulada onde ser o possuidor do objeto é algo de grande valia?

Qual o sentido em me possuir? Que culpa tenho eu que você, bípede, não é livre por completo?

Troque de lugar comigo ao menos por um dia, e verá como a sensação da inocência cerceada é algo que não tem valor... para ser jogada fora assim, diariamente, por simples capricho ou vaidade!

Guttwein, T.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Se fosse fácil... não teria graça

tudo são escolhas...

Conta-se nos dedos de apenas uma mão e olha lá. Pelo menos é essa minha visão... Você conhece alguém verdadeiramente feliz? E claro, aqueles que têm plena condição para tal, sempre arrumam algum entrave para complicar seu cotidiano.

Sogras e noras por exemplo, típico exemplo de ódio fútil e desnecessário. Irmãs que adorariam ver as cunhadas pelas costas e vice-versa. Erga as mãos para Odin se na sua família nunca existiu alguém que se engraçou com quem não devia. É raro, infelizmente, ter uma vida familiar nitidamente satisfatória. As relações entre parentes, ou entre aqueles que pretendem ingressar nela costumam ser explosivas, para dizer o mínimo. Pelo menos em algum momento da vida...


Mas não sejamos tão fatalistas. Vamos analisar outras situações...vai que melhora não é mesmo?
Suponhamos que com a Família esteja tudo bem, migremos então para a vida profissonal. Você chegou ao ponto que queria, após alguns anos de batalha: estabilizado financeiramente, com crédito e credibilidade na praça. Maravilha! Mas e o lado sentimental? Oras, também vai muito bem, obrigado. A família aceitou a relação com ela(e) numa boa, os amigos mais ainda... mora(am) numa casa bacana, o carro esta pago e já pensa em trocar. E modéstia a parte, o visual não deixa a desejar. É praticamente um tesão se admirar no espelho. E claro, mulheres (ou homens) não faltam na sua farta horta.

Não seriam razões para estar pulando de alegria?. São, até demais eu diria. Porém, é hora de inventar algo, mas qualquer coisa mesmo para sofrer, e sofrer muito! Até porque, não há nada mais trash do que viver a simplória e nada almejada felicidade! ¬¬


Um recurso comum e quase um clichê? O medo.


- E se eu ficar doente? E se ela(e) me deixar? E se minha mãe morrer? E se eu perder o emprego por causa disso? E se cair um meteoro na minha casa ou uma enchente levar meu carrão? E se minha inteligência desaparecer? Droga, e se a inflação retornar e as prestações começarem a atrasar por causa disso? – e por ai vai...


Quem está por baixo, geralmente é mais feliz, pelo menos eu penso assim – tais pessoas não têm medo de nada e nunca acham que a vida vai piorar, muito pelo contrário. Batalham a sua maneira e não ligam para a opinião alheia.

Mas quem está com a vida ganha, vida boa, sempre acha uma maneira de fatalizar, dramatizar com tudo.


Para o bicho homem, não há nada mais monótono do que a felicidade... é preciso arranjar pelo menos um problema, um pequenininho que seja, para que a vida fique mais “interessante”, que saia da rotina... e isso é mais simples do que parece.


Basta pensar: e se a nossa felicidade acabar agora? Hoje? Amanhã?

Guttwein, T.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ósculo que reabilita...


Zack odiava beijos, ainda mais os em público... custava a crer, aquilo era algo que o deixava desorientado, profundamente perturbado, quase fora de si.

- Imorais! É isso que eles são, sem sombra de dúvida!


O mundo ainda tem esperanças, a moral vai se sobressair
- Dizia ele, vibrando de euforia, ao ler a nota no jornal onde falava sobre o jogador brasileiro de vôlei Leandro Vissotto, que após beijar sua mulher em público na China ( em comemoração a conquista do título), foi repreendido por um membro da Organização do Mundial de Vôlei.

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Uma breve interrupção no relato para uma curiosidade
: Na China, aliás, numa universidade do Leste chinês, foi criada a “patrulha do beijo”, com a finalidade de policiar casais que estejam se beijando nas dependências do Instituto. Patrulhas essas,formadas por alunos voluntários (desocupados), e supervisionados por professores (igualmente desocupados) . E como separar o casal que esteja se beijando, se abraçando ou sentados próximos demais? Simplesmente postando-se atrás deles e começando a tossir até os dois se separarem ¬¬
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No auge de sua juventude, beirando os 18 anos, e devido a seu porte atlético, Zack poderia arrumar a namorada que bem entendesse e beijá-la o quanto quisesse, mas não era esse o caso. Em sua cabeça, Zack era como um cavaleiro Templário, porém, defensor máximo de uma Cruzada contra a imoralidade pública – inclui-se ai, saias e vestidos curtos, piercings “estratégicos”, mas, principalmente beijos. Prometeu a si próprio que nenhum casal se beijaria próximo a ele. Jamais.

Mas como evitar isso ele pensava? Violência não seria o método. Teria de ser algo eficiente, mas sem ser agressivo. E num lampejo noturno lhe ocorreu: Tossir. Essa será sua arma!

Zack pensava consigo: - Todo mundo sabe que tossir é um meio hábil de advertir alguém inconveniente sobre algo que está lhe incomodando. Um meio prático de chamar a atenção.
Resolveu testar e assim que avistou um casal se beijando descontraidamente na plataforma do metrô, postou-se atrás deles e começou a tossir descontroladamente, até que o casal “se soltou”. O rapaz que beijava a moça, virou-se incomodado e seguiu para longe de Zack, mas a moça, que por coincidência, ele conhecia, parou por um instante e ficou-o encarando, e depois, seguiu atrás de seu par.

Quase 23:00hs, e Zack estava no seu quarto, a escrever sem parar sobre doenças infecto-contagiosas transmitidas através do beijo, um artigo que pretendia publicar no jornal da faculdade, quando de repente, alguém bate a porta de seu quarto, no alojamento da faculdade. Quando abriu, se deparou com a moça da estação de trem. Sorrindo, ela lhe estendeu um frasco de xarope contra tosse.
Num impulso, Zack puxa-a para si e da-lhe um beijo de cinema. Seu primeiro beijo por sinal... o mais apaixonado de sua vida.

Estão namorando. E beijando muito por sinal. O xarope, ele deu para um amigo necessitado da mesma cura e descobriu enfim, o que realmente é bom para tosse... ao menos a tosse que vem de uma neurose: é o beijo. Um remédio e tanto!
Guttwein, T.

sábado, 14 de novembro de 2009

Uni(Tale)ban

mulher utilizando uma burca- Imagem retirada do Google

Estudantes e suas mobilizações... Nos anos 60/70, o protesto era contra a Ditadura; nos anos 80/90, o foco foi contra o governo Collor de Melo e sua corrupção (congelamento das contas em poupança e inúmeras outras coisas); Agora, em pleno século XXI, os estudantes se prestam a protestar contra o comprimento da saia de uma colega de faculdade. Que tristeza! Isso é evolução ou emitente regressão no campo das idéias?


Após pressão de tudo quanto é órgão (Ministério Público, UNE, MEC, OAB, Secretaria das Mulheres, Congresso Nacional e etc) o reitor da moralista (?) faculdade resolveu voltar com sua decisão e permitir que a aluna, antes expulsa por sua “obscenidade”, continue a estudar no mesmo campus...terminar seu curso... rsrs ¬¬


Ela volta, porém, os aproximadamente 700 agressores continuam por lá, impunes, com sua coragem em grupo, seu moralismo rançoso e quem não nos garante, prontos para mais uma “reação coletiva em defesa da moral e do bom ambiente escolar”.


Internacionalmente, ficou pra lá de contraditório esse caso. Típico caso de chacota! Tanto para o Brasil, como para a tal “universidade”. Que país é esse dos cartões postais recheados de mulheres semi-nuas nas praias (idem nos comerciais televisivos), convidativas ao extremo, porém, que não admite um vestido um pouco mais curto em “x” ambiente? Essa eterna colônia de exploração que recebe o nome de Brasil é reeeeealmente surpreendente!


Certa feita, Nelson Rodrigues proclamou: -“Do pescoço para baixo, deveríamos andar nus. A parte mais obscena de nosso corpo é nosso rosto”(!!!)

Cada qual com suas capacidades de interpretação... mas deixo declarado que estou plenamente de acordo.


A obscenidade maior, está no rosto dos algozes da moça Geizy e não no naco de perna amostra da mesma. Está também na face, (e muito bem implícita), dos diretores da tal UNIBAN.

Tão imoral quanto a expulsão injustificada, é o “perdão” forçado, para manter as aparências e mais algumas matrículas!

Guttwein, T.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Como dizia minha avó...

Olha gente, esses dias, mais uma vez nas ruas de São Paulo dentro do carro, me lembrei de um velho ditado que minha querida avó (que descansa lá no céu, eu acho...) dizia: “a gente morre e não vê de tudo!”. E de fato, ela não viu!

Vejam como uma simples ida ao médico pode se transformar num verdadeiro “circo”!

Em uma daquelas tradicionais passadas no ginecologista, parei pra pensar: você está naquela cama, em uma posição super desconfortável, a médica te examinando comenta com a auxiliar: “nossa, mas está muito boa a recuperação não é? Veja como está rosado (se referindo ao meu útero), e como é estreito o canal dela...”. A médica se referia a minha recuperação depois de realizada uma cauterização. Virando-se pra mim ela continua: “Você tem os músculos fortes!”. Juro, me senti como uma coisa em teste, sabe? Um experimento, ou qualquer coisa do gênero! Você ali, louca pra que aquilo termine, e a médica comentando sobre o que vê com a auxiliar, seu canal, seu útero rosado... sem comentários!

Mas, passada a consulta, e voltando ao início do texto, pego meu carro no estacionamento e paro no farol. Aquela fila enorme! Meu vidro estava aberto pela metade. Vejo um rapaz se aproximar ao meu carro. Instantaneamente, penso em fechar logo meu vidro pra me livrar do “pedidor de esmola”. Mas, olho novamente o rapaz, e eis o que vejo: um homem, de mais ou menos 25 anos, usando uma calça jeans, camiseta colorida de todas as cores possíveis e uma cartola verde limão na cabeça. Minha curiosidade não permitiu fechar o vidro, e esperei pra ver. O homem pára no meu vidro e diz com o tom de voz “afeminado”, segurando uma carteirinha da faculdade Unip nas mãos: “Olá, boa tarde minha jovem. Estou aqui hoje pra agradecer pessoas lindas e inteligentes como você, que ao longo desses 2 anos me ajudam a concluir o meu cursinho de letras na faculdade. Peço novamente que me ajude, e pra agradecer, vou recitar um de meus poemas, A Conchinha Verde”. E lá se pôs o cara a recitar seu poema... com toda uma interpretação, gestos... um verdadeiro artista! Rsrs! Sem contar o poema, intitulado como “A Conchinha Verde”...

Fiquei tão impressionada, que me esqueci de dizer ao rapaz que não tinha um centavo na carteira. Havia dado tudo no estacionamento. E ele lá empolgado, recitando. Ao final, disse a ele que não tinha o trocado, ele agradeceu com um sorriso largo e foi para o próximo carro.

Essa situação me fez refletir e de pronto, me veio à cabeça o ditado de minha avó. Realmente, “a gente morre e não vê de tudo”. Até onde vai a criatividade do povo brasileiro pra arrecadar um trocado? Verdade ou não que o trocado ajudaria no “cursinho de letras” do indivíduo, achei o caso interessante e o homem criativo. Quando percebi, havia esquecido a chata consulta e os comentários da médica, e estava gargalhando, sozinha no carro, parada no farol.

E que coisa, às vezes ficamos tristes por coisas tão pequenas, desanimados por pouco, mal-humorados! E esse cara lá, feliz da vida, num sol de rachar, recitando o poema e encarando o NÃO com um sorriso, me fazendo rir...
É pra se pensar... e pra rir também! Essa é pra você, viu vó? Rsrs! Será que Dona Hermínia (minha avó) presenciou mais essa?
Ariane Aleixo