domingo, 12 de dezembro de 2010

Taxi Driver



Havia regressado a pouco das tais Forças Expedicionárias, missão de paz em um país longínquo. Uma guerra que nunca fora sua. Um interesse governamental escuso, omisso, mas tinha consciência de algo; Jamais ficaria sabendo o real motivo para ter sido mandado para lá. Política nunca fora seu forte mesmo. E acabou que no fim, se acostumou com o jorros de sangue e com os constantes gritos, dia e noite. Mas tudo isso era um passado (recente) que estava disposto a esquecer.

O fato é que, agora que estava em casa, precisava se ocupar de alguma maneira, para efetivamente, pensar em outra coisa que senão nas atrocidades das quais fez parte. Surgiu portanto uma oportunidade para ser motorista de taxi. Aceitou sem pestanejar. Não toparia algo burocrático como trabalhar em escritório, pois seus espírito não permitia algo que o acorrentasse. Odiava burocracia e as correntes destrutivas advindas dela.

Mesmo sendo do tipo calado, reforçado por ser um ex-militar, acabava conversando com todo tipo de gente graças a nova profissão. Pessoas que trabalhavam para o governo, gente da televisão, cafetões diversos e claro, “as meninas da noite”... Como ele se referia a elas, as profissionais do sexo. Enfim, uma gama de pessoas e de formas de pensar. Não que esses pequenos fragmentos de conversas agregassem algo mas, inconscientemente, ele pensava mais do que gostaria nas conversas que tinha com seus clientes flutuantes.

Há tempos não via qualquer familiar, a relação nunca fora das melhores. Quando morava com os pais, não havia luxo porém o trivial não lhes faltava. Um pai austero, militar aposentado, uma mãe bastante religiosa. Ria amarguradamente ao se lembrar disso e ainda mais quando pensava no que havia se tornado. Algo completamente aquém das aspirações familiares. “Mas essa é minha vida, não a deles”, assim pensava.

Nunca fora um tipo “maquinador”. Aquele tipo de pessoa que tenta a todo custo controlar seu mundinho particular e de quem está ao seu redor, para fazê-lo girar no seu ritmo. Na verdade, sentia-se internamente como um cão que corre atrás de um carro quando o vê passar. Nunca saberá a razão do porque isso ou porque aquilo, nem o que faria se pegasse o carro finalmente. Simplesmente o faz...

Hoje o tal “cão” finalmente pegou o carro, o dirige, e não contente, ainda leva pessoas aos seus destinos, conforme combinado. “Ironia fina”, assim é que ele gostava de pensar ao lembrar-se disso...
Guttwein, T.